domingo, 8 de abril de 2012

Famintas Estrelas

Estrelas gostam de comer o brilho das lâmpadas.
Degustam das mais variadas intensidades, enchem-se de todo o clarão. Ficam satisfeitas e dormem.
O fulgor tem um gosto peculiar. Mistura-se com a canela e o açafrão fresco, mas nunca deixa de lado seu sabor azul. É de extrema delicadeza. Para apreciá-lo, é preciso alcançar um estado de espírito sublime. Por isso, as estrelas se fartam. Paladar singelo este que, nas horas escuras, clareia. Exato, preciso e meticuloso.
No vazio do universo, no espaço entre as lacunas, as estrelas jaziam. Esfomeadas, precisavam de mais brilho. Redondas, balofas, insaciáveis. E, assim, as estrelas cresciam.
Cresciam pois, inconscientemente, eram alimentadas pelo seu egoísmo. Estrelas desavisadas eram apagadas, desprovidas de seu clarão característico.
Não importava mais a cor ou a temperatura. Vermelhas, azuis, quentes, amarelas, mornas, verdes, frias e congeladas. Extintas.
O Céu começou a minguar. Entrava em um estado de abatimento constante. Sentia-se humilhado, nu. E em todo seu breu, não havia um único clarão para tirá-lo da vala em que se atirava. O Céu precisava de ajuda. O Céu precisava de estrelas.
Foi então que veio o Sol. Não era dos mais gordos, rechonchudo, entretanto, mas gostava de mimar o palato. O Sol era conhecido pela sua inconstância. Mas era porque não reconheciam sua sensibilidade.
Ele entendia a melancolia do Céu, apesar de não conter seu apetite. Mas o Sol brilhava pouco comparado a outras estrelas para acabar com tamanha depressão.
Dentre as estrelas, havia também seres turvos, seres escuros. Havia a Lua.
Lua que não reconhecia a sensibilidade do Sol. Que ignorava a tristeza do Céu. Que zombava da fome das estrelas. A Lua não sabia de nada. Mas tinha um tremendo sorriso, que brilhava mais do que qualquer coisa já vista por olhos impressionáveis.
Desprovido de todas suas defesas falsas, o Sol se apaixonou pela Lua. E por isso, abateu-se mais que o Céu. É que, a Lua não sabia, mas sempre que ela nascia, o Sol tinha que se pôr. Seus horários não batiam e viviam numa série de desencontros que partiam o coração iluminado do Sol.
Entre eles, havia a Terra.
(nesse universo melancólico, acaba que o instante oco vira vácuo e tudo engole. Bem vindo ao espaço misantrópico.)
Pois que a Terra também chorava. Na melhor das hipóteses, era só dor de barriga. Mas o Sol sabia que era mais do que isso, que era a sombra que a encobria. A Terra estava sem lâmpadas, e, assim, encolhia.
Em um dia mais negro que os outros, em um instante mais frívolo que os anteriores, o Sol abriu a boca. E em um jato ininterruptível, vomitou sua luz na Terra.
Parece asqueroso e sujo. Mas a Terra sorriu.
E a Terra brilhava tanto que chegou a cegar os tais olhos impressionáveis. E o brilho foi tanto que a Lua, num súbito ato desesperado, jogou-se na frente do Sol para diminuir a intensidade da luz.
Nesse instante, agora cheio e iluminado, eles se amaram. E as estrelas, comovidas, vomitaram suas luzes por aí, deixando o céu em um êxtase supremo.

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