segunda-feira, 16 de abril de 2012

Como eu não entendo o pesar

O céu fervilha em vermelho.
Acordei agora com uma má notícia e não consigo mais pregar os olhos. Minhas pernas não conseguiam se deitar, como loucas, queriam só correr. Prendi-as. Sentei-me. Parei para digerir.
Está sendo difícil para mim de engolir.
Não aprendi a lidar com perdas. Tenho vontade de levantar-me para gritar:
"Mas isso é injusto! Não pode, não deve ser assim. Tão cedo... tão rápido! E por um erro? Não pode, não pode..."
Dessa vez eu descobri. Não adianta gritar. Algumas coisas vem como ponto final. Elas não somem, apenas viram cicatrizes.
Aos 14 anos, meu pai se tatuou. Uma tatuagem horrorosa. Duas, na realidade, um escorpião e uma boca. Ele pode tirar a tatuagem. Mas ainda haverá uma marca em sua pele, de quando ele era jovem e desimpedido, e se marcou porque quis.
A tatuagem não é um ponto final, mas ilustra a ideia.
Minhas pernas estão um pouco mais relaxadas e o céu enegreceu.
Pontos finais trazem consigo lágrimas e saudades. Desamparo. Que são combatidos com abraços, acalantos e sorrisos, mas, principalmente, com palavras.
Outro ponto fraco meu: além de não lidar com perdas, não sou boa com palavras.
Mas entre meus braços você encontrará todo o carinho do mundo! Pode parecer cliché, mas te dou o meu silêncio como forma remédio. Ele é compreensível e confortável, escuta o debulhar do espaço e oferece atenção.
A má notícia me acordou e destruiu qualquer resquício de possibilidade de ninar.
Só consigo pensar em como confortar os mais feridos. Como? Se nem mesmo consigo confortar a mim, que só tem problemas com as pernas.
Não dou credibilidade às más notícias. Não consigo me convencer de sua existência.
Sei que vou levar tapas na cara.
Prefiro leva-los em minha ignorância ao abraçar no silêncio aqueles que creem e sofrem comigo.

Querido amigo, saiba que sempre estarei ao seu lado. O amor é imortal, assim como o passado. Guarde o que é bom e seja o melhor.

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